
Este texto é uma reflexão inspirada pelo podcast de Clóvis de Barros, no qual ele retoma e comenta as ideias centrais de Parmênides de Eléia, um dos mais antigos e enigmáticos pensadores da filosofia ocidental.
Na alvorada do pensamento ocidental, uma voz se ergueu contra o fluxo caótico da aparência: Parmênides de Eléia. Entre os primeiros a desafiar a tirania dos sentidos, ele plantou a semente de uma ideia perturbadora: o Ser é, o Não-Ser não é. Essa simples frase é uma explosão metafísica que reverbera até hoje.
O Caminho da Verdade (Aletheia) e o Caminho da Opinião (Doxa)
Clóvis de Barros, em seu podcast, sintetiza com paixão essa encruzilhada filosófica. Por que buscar o Ser, esse fundamento oculto sob as aparências do mundo? Porque o que nos é dado pelos sentidos são apenas os “entes”: coisas, corpos, acontecimentos efêm eros. E os sentidos são traiçoeiros; eles nos mergulham em opiniões, não em verdades.
O filósofo, portanto, não se satisfaz com o sensível. Ele opta pelo caminho da razão, pelo logos, pela aletheia — a verdade que se revela àqueles que ousam pensar para além do que é visível.
O Ser é: eterno, imutável, uno
Parmênides propõe uma ontologia austera: o Ser é tudo o que existe. E o Ser não muda, não nasce, não morre. Pois admitir que o Ser tenha vindo a ser implica aceitar que ele foi gerado a partir do Não-Ser — o que é logicamente impossível. O Não-Ser não é, portanto nada pode brotar dele.
Logo, o Ser sempre existiu. Não há começo nem fim. Ele não se transforma, não se fragmenta, não se nega. O que “parece” mudança, nascimento ou morte é apenas ilusão dos sentidos.
A Morte e o Engano da Percepção
Quando assistimos à morte, vemos o fim de algo. Supomos que o Ser passou ao Não-Ser. Mas Parmênides diria: isso é impossível. A morte, como a percebemos, é um erro sensorial. O Ser verdadeiro — esse que é pensado pela razão pura — não se dissolve.
A Visão Estoica da Eternidade
Aqui ressoa uma harmonia com o estoicismo e até com o budismo: a ideia de que por trás do fluxo aparente, existe uma substância inalterável. Mas Parmênides vai ainda mais longe: ele nega o próprio fluxo. Ele é mais radical que Heráclito, seu oposto filosófico.
Conclusão: A filoso
E para conclui: parmênides nos convida a desconfiar dos olhos, dos ouvidos, da pele e do gosto. Aquilo que é verdadeiramente real é apenas acessível pelo pensamento rigoroso. a filosofia é, portanto, uma disciplina do desvelar. é a arte de aprender a ver o invisível. e talvez seja isso que nos assusta e nos atrai no pensamento parmenídico: a promessa de que, se ousarmos pensar com retidão, encontraremos um solo firme sob nossos pés. um Ser que é, e que jamais deixou de ser.