A democracia é um regime político que, em teoria, deveria assegurar aos cidadãos a participação igualitária nos processos de decisão política, seja de forma direta ou por meio de representantes eleitos. Contudo, ao analisarmos a realidade, é necessário questionar: há, de fato, igualdade na democracia que praticamos? Podemos considerar nosso contexto como verdadeiramente democrático?
Pensemos em uma situação hipotética, mas emblemática: dois subgerentes de uma mesma empresa concorrem a uma promoção. Essa empresa, supostamente democrática, deveria proporcionar condições iguais para ambos, não? Entretanto, as diferenças individuais entre os dois — como estilo de vida, tempo disponível para dedicar-se às demandas do trabalho e, até mesmo, questões raciais — invariavelmente interferem nesse processo.
Se um dos candidatos é negro e o outro é branco, e o gerente que decide também é branco, essa dinâmica pode ser ainda mais impactada por preconceitos, conscientes ou inconscientes. Em uma sociedade marcada por desigualdades estruturais, as chances de ascensão profissional são frequentemente determinadas por fatores alheios ao mérito. Assim, a democracia, no sentido pleno de igualdade, já não encontra espaço nesse cenário.
Expandindo essa análise para o âmbito político e social, percebemos que a própria definição de democracia como um sistema onde todos os cidadãos participam em condições de igualdade é, na prática, uma utopia. As diferenças socioeconômicas, culturais e históricas inviabilizam esse ideal. Não vivemos as mesmas experiências, não pensamos da mesma forma, não agimos de maneira idêntica. Como, então, partir do mesmo ponto para construir uma sociedade igualitária?
Talvez a maior armadilha esteja na ilusão de que a democracia existe plenamente. Essa crença pode servir como um instrumento de controle, mantendo as massas em um estado de apatia e submissão. Quando não compreendemos o verdadeiro significado da democracia — ou o que ela deveria ser —, tornamo-nos alvos fáceis de manipulações. Grande parte da população desconhece as origens e os propósitos democráticos e, por isso, aceita passivamente um sistema que perpetua desigualdades e injustiças.
Historicamente, podemos observar um declínio no engajamento político e no senso de responsabilidade coletiva. Em um passado não tão distante, o cidadão brasileiro possuía uma voz mais ativa, uma compreensão mais clara de seus direitos e uma disposição maior para lutar por um país mais justo. Hoje, no entanto, a sociedade parece estar imersa em distrações superficiais — redes sociais, entretenimento efêmeros e discussões frívolas — enquanto o sistema político continua a operar em benefício de uma minoria privilegiada.
Essa alienação coletiva fortalece o poder daqueles que ocupam cargos de liderança. Políticos, eleitos por nós, frequentemente utilizam seu poder para consolidar um sistema que favorece poucos à custa de muitos. E, enquanto a sociedade permanece dividida em debates superficiais e conflitos internos, aqueles no topo da hierarquia “fazem a festa”, ampliando seu controle sobre a população.
A filosofia de Platão enfatizava a importância da educação e da reflexão para a construção de uma sociedade justa. Compartilho dessa perspectiva e acredito que a conscientização sobre as desigualdades é um passo essencial para transformar o ideal democrático em algo mais próximo da realidade. Apenas através da educação, do engajamento crítico e da ação coletiva poderemos superar as barreiras impostas por um sistema que, ao invés de promover igualdade, perpetua a desigualdade.