Skip to content

NIRUPADHI

o futuro e um presente ainda não vivido, e o passado e um presente já vivido.

  • Mande-nos sua mensagem.
  • Política de Privacidade
  • Sobre Nirupadhi
  • Termos de Serviço
.
  • Home
  • »
  • Estoico
  • »
  • O Homem que Descobriu que Tinha Tempo Demais
  • »
  • Estoico
  • 23 de julho de 202523 de julho de 2025
  • 0

O Homem que Descobriu que Tinha Tempo Demais

Uma História Sobre a Arte de Viver

Marcus sempre se queixava de que 24 horas não eram suficientes. Executivo bem-sucedido aos 45 anos, vivia correndo entre reuniões, checando constantemente o celular, planejando o próximo investimento, a próxima promoção, a aposentadoria dourada que chegaria “em breve”.

Certa manhã, enquanto esperava nervoso num engarrafamento — mais um atraso que arruinaria sua agenda —, notou um senhor na calçada lendo tranquilamente um livro. A cena o irritou: “Como alguém pode ter tanto tempo livre?”

Chegou ao escritório estressado, como sempre. No elevador, encontrou João, o zelador aposentado que trabalhava meio período.

— Bom dia, seu Marcus! Como vai a correria? — Ah, João… você não faz ideia. Não sei como você consegue ficar tão calmo. Deve ser bom ter tempo de sobra, né?

João sorriu: — Na verdade, descobri que sempre tive tempo de sobra. Só não sabia disso.

Marcus franziu a testa, intrigado.

A Conversa que Mudou Tudo

Naquela tarde, Marcus procurou João na portaria. Algo naquelas palavras o incomodava.

— João, o que você quis dizer com “sempre teve tempo de sobra”?

O zelador fechou o livro que estava lendo — “Cartas a Lucílio”, de Sêneca — e olhou para Marcus:

— Seu Marcus, durante 30 anos trabalhei 12 horas por dia numa fábrica. Reclamava que não tinha tempo para nada. Mas sabe o que descobri? Não é que a vida seja curta, é que a desperdiçamos demais.

Marcus se sentou, interessado.

— Eu desperdiçava horas me preocupando com coisas que não podia controlar: se ia chover, se o chefe estava mal-humorado, se a economia ia melhorar. Desperdiçava energia culpando os outros pelos meus problemas. E sempre adiava o que realmente importava para “quando tivesse tempo”.

A Lição do Controle

— Então o que mudou? — perguntou Marcus.

— Aprendi a diferença entre o que posso e não posso controlar. Minha felicidade depende apenas de três coisas que estão totalmente sob meu poder: minha vontade, minha interpretação dos fatos, e como uso meus pensamentos.

João continuou: — Aquele engarrafamento que te deixou nervoso hoje? Você não pode controlá-lo. Mas pode controlar como reage a ele. Pode usar esse tempo para refletir, para respirar, para estar presente. Os eventos não nos perturbam; nossa interpretação deles sim.

Marcus pensou nos últimos meses: quantas horas havia perdido se irritando com atrasos de voo, com decisões do governo, com a bolsa de valores…

O Despertar para o Presente

— Mas e os objetivos, os planos? — Marcus questionou. — Preciso pensar no futuro!

— Claro que precisa ter objetivos. Mas não pode viver só para o futuro. O maior obstáculo à vida é a expectativa que nos faz correr atrás do amanhã e perder o hoje.

João apontou para a janela, onde se via o pôr do sol: — Quantos pores do sol você realmente observou nos últimos anos? Quantas conversas genuínas teve com sua família? O único bem verdadeiramente seu é o “agora”.

A Transformação

Nas semanas seguintes, Marcus começou a aplicar essas reflexões. Parou de checar o celular compulsivamente durante o almoço. Quando preso no trânsito, em vez de se irritar, usava o tempo para pensar ou simplesmente observar ao redor.

Percebeu que muitas de suas “ocupações urgentes” eram, na verdade, formas de evitar reflexão sobre o que realmente importava. A ocupação sem propósito não é produtividade, compreendeu.

Começou a definir claramente que tipo de pessoa queria ser, em vez de apenas que posição queria alcançar.

A Descoberta Final

Seis meses depois, Marcus encontrou João lendo outro livro — “A Arte de Viver”, de Epicteto.

— João, você tinha razão. Descobri que tenho muito mais tempo do que imaginava. — Como assim, seu Marcus? — Cada dificuldade virou uma oportunidade de me conhecer melhor. Parei de desperdiçar energia com o que não posso controlar e comecei a investir no que posso: minha atitude, meus valores, minha presença.

Marcus olhou para o livro: — E sabe o que é engraçado? Estou sendo mais produtivo no trabalho, mas trabalhando com mais tranquilidade. Estou presente com minha família. Durmo melhor. É como se…

— Como se tivesse descoberto que somos como atores numa peça, e nosso papel é desempenhá-lo da melhor forma possível, sem reclamar do roteiro? — completou João, sorrindo.

— Exatamente. A verdadeira liberdade não é fazer o que quero, mas compreender os limites do meu poder e trabalhar com eles, não contra eles.

Epílogo: A Lição Atemporal

Hoje, Marcus ainda é executivo, ainda tem responsabilidades e desafios. Mas vive cada momento com mais consciência. Entendeu que a qualidade da vida não é determinada pela quantidade de anos, mas pela intensidade e sabedoria com que vivemos cada momento.

E você? Já parou para refletir se está realmente vivendo… ou apenas passando tempo?

Como disse Sêneca: “A vida é longa o bastante, se soubermos aproveitá-la.”


Inspirado nos ensinamentos atemporais de Sêneca e Epicteto, dois filósofos que nos ensinam que a arte de viver bem está ao alcance de todos nós — basta a coragem de começar hoje, agora, neste exato momento.

Tags:estoicismo

Nirupadhi

  • 5 Livros de Filosofia Estoica que Vão Transformar Sua Perspectiva de Vida
  • Como Filosofia e Espiritualidade Ajudam no Bem-Estar Mental

Budismo crisipo espiritualidade estoicismo estoico filosofia meditação morte e eternidade nirupadhi o Ser é Parmênides pré-socráticos religião Stoá poikílê Zenão Zenão de Citio

Avatar de Nirupadhi

Paulo Henrique Matias De Brito

Sou Paulo — melancólico por vocação, estoico por necessidade. Escrevo como quem investiga feridas, atravessa dúvidas e coleciona silêncios. No nirupadhi.com, compartilho reflexões nascidas entre o ceticismo e a fé, o desassossego e o estudo. Busco clareza sem pressa e sentido nas entrelinhas. Escrever, pra mim, é modo de existir.

Você Pode Gostar...

Ser Livre é Entender a Impermanência: Como Viver sem Sofrimento

  • 25 de julho de 202525 de julho de 2025
  • 0
Daimon grego, alma eterna, ātman hindu, anattā budista e pneuma estoico

Daimon, Alma e os Conceitos Filosóficos do Ser: Uma Jornada pela Espiritualidade Antiga

  • 14 de julho de 202513 de julho de 2025
  • 0

A Plenitude que Não se Busca — Um Olhar Budista sobre a Felicidade

  • 17 de maio de 202517 de maio de 2025
  • 3

Padmasambhava: O Mestre que Transformou o Budismo no Tibete

  • 5 de março de 202527 de março de 2025
  • 0

NIRUPADHI

  • Mande-nos sua mensagem.
  • Política de Privacidade
  • Sobre Nirupadhi
  • Termos de Serviço
  • Início
  • Sobre Nirupadhi
  • Política de Privacidade
  • Termos de Serviço

Copyright Todos os direitos reservados 2022 | Theme: Pritam by Template Sell.