
Uma História Sobre a Arte de Viver
Marcus sempre se queixava de que 24 horas não eram suficientes. Executivo bem-sucedido aos 45 anos, vivia correndo entre reuniões, checando constantemente o celular, planejando o próximo investimento, a próxima promoção, a aposentadoria dourada que chegaria “em breve”.
Certa manhã, enquanto esperava nervoso num engarrafamento — mais um atraso que arruinaria sua agenda —, notou um senhor na calçada lendo tranquilamente um livro. A cena o irritou: “Como alguém pode ter tanto tempo livre?”
Chegou ao escritório estressado, como sempre. No elevador, encontrou João, o zelador aposentado que trabalhava meio período.
— Bom dia, seu Marcus! Como vai a correria? — Ah, João… você não faz ideia. Não sei como você consegue ficar tão calmo. Deve ser bom ter tempo de sobra, né?
João sorriu: — Na verdade, descobri que sempre tive tempo de sobra. Só não sabia disso.
Marcus franziu a testa, intrigado.
A Conversa que Mudou Tudo
Naquela tarde, Marcus procurou João na portaria. Algo naquelas palavras o incomodava.
— João, o que você quis dizer com “sempre teve tempo de sobra”?
O zelador fechou o livro que estava lendo — “Cartas a Lucílio”, de Sêneca — e olhou para Marcus:
— Seu Marcus, durante 30 anos trabalhei 12 horas por dia numa fábrica. Reclamava que não tinha tempo para nada. Mas sabe o que descobri? Não é que a vida seja curta, é que a desperdiçamos demais.
Marcus se sentou, interessado.
— Eu desperdiçava horas me preocupando com coisas que não podia controlar: se ia chover, se o chefe estava mal-humorado, se a economia ia melhorar. Desperdiçava energia culpando os outros pelos meus problemas. E sempre adiava o que realmente importava para “quando tivesse tempo”.
A Lição do Controle
— Então o que mudou? — perguntou Marcus.
— Aprendi a diferença entre o que posso e não posso controlar. Minha felicidade depende apenas de três coisas que estão totalmente sob meu poder: minha vontade, minha interpretação dos fatos, e como uso meus pensamentos.
João continuou: — Aquele engarrafamento que te deixou nervoso hoje? Você não pode controlá-lo. Mas pode controlar como reage a ele. Pode usar esse tempo para refletir, para respirar, para estar presente. Os eventos não nos perturbam; nossa interpretação deles sim.
Marcus pensou nos últimos meses: quantas horas havia perdido se irritando com atrasos de voo, com decisões do governo, com a bolsa de valores…
O Despertar para o Presente
— Mas e os objetivos, os planos? — Marcus questionou. — Preciso pensar no futuro!
— Claro que precisa ter objetivos. Mas não pode viver só para o futuro. O maior obstáculo à vida é a expectativa que nos faz correr atrás do amanhã e perder o hoje.
João apontou para a janela, onde se via o pôr do sol: — Quantos pores do sol você realmente observou nos últimos anos? Quantas conversas genuínas teve com sua família? O único bem verdadeiramente seu é o “agora”.
A Transformação
Nas semanas seguintes, Marcus começou a aplicar essas reflexões. Parou de checar o celular compulsivamente durante o almoço. Quando preso no trânsito, em vez de se irritar, usava o tempo para pensar ou simplesmente observar ao redor.
Percebeu que muitas de suas “ocupações urgentes” eram, na verdade, formas de evitar reflexão sobre o que realmente importava. A ocupação sem propósito não é produtividade, compreendeu.
Começou a definir claramente que tipo de pessoa queria ser, em vez de apenas que posição queria alcançar.
A Descoberta Final
Seis meses depois, Marcus encontrou João lendo outro livro — “A Arte de Viver”, de Epicteto.
— João, você tinha razão. Descobri que tenho muito mais tempo do que imaginava. — Como assim, seu Marcus? — Cada dificuldade virou uma oportunidade de me conhecer melhor. Parei de desperdiçar energia com o que não posso controlar e comecei a investir no que posso: minha atitude, meus valores, minha presença.
Marcus olhou para o livro: — E sabe o que é engraçado? Estou sendo mais produtivo no trabalho, mas trabalhando com mais tranquilidade. Estou presente com minha família. Durmo melhor. É como se…
— Como se tivesse descoberto que somos como atores numa peça, e nosso papel é desempenhá-lo da melhor forma possível, sem reclamar do roteiro? — completou João, sorrindo.
— Exatamente. A verdadeira liberdade não é fazer o que quero, mas compreender os limites do meu poder e trabalhar com eles, não contra eles.
Epílogo: A Lição Atemporal
Hoje, Marcus ainda é executivo, ainda tem responsabilidades e desafios. Mas vive cada momento com mais consciência. Entendeu que a qualidade da vida não é determinada pela quantidade de anos, mas pela intensidade e sabedoria com que vivemos cada momento.
E você? Já parou para refletir se está realmente vivendo… ou apenas passando tempo?
Como disse Sêneca: “A vida é longa o bastante, se soubermos aproveitá-la.”
Inspirado nos ensinamentos atemporais de Sêneca e Epicteto, dois filósofos que nos ensinam que a arte de viver bem está ao alcance de todos nós — basta a coragem de começar hoje, agora, neste exato momento.