Há uma ternura secreta naquilo que se despede.
O instante antes do adeus tem um perfume que o tempo não consegue apagar — talvez porque é justamente o fim que nos revela o valor do agora.
Amar é sempre um risco.
Quem ama se entrega ao que não pode possuir, se abre ao que o tempo inevitavelmente transformará.
Mas é esse risco — e não a segurança — que dá densidade à experiência humana.
O estoico aceitaria a perda com serenidade, lembrando que nada é realmente nosso; tudo o que nos cerca é emprestado pela natureza.
Buda diria o mesmo com outras palavras: o apego é a raiz do sofrimento.
E ainda assim, é preciso amar — mesmo sabendo que o amor nos despedaça e nos refaz.
O amor, para quem o compreende, não é um contrato de posse.
É um ato de contemplação.
Amamos o que é passageiro como quem observa a chama de uma vela: não pedimos que dure, apenas que ilumine enquanto existe.
Simone Weil escreveu que “amar a Deus é consentir com a distância entre nós e Ele”.
O mesmo vale para o amor humano: amar é consentir com a separação — é olhar o ser amado e aceitar que ele pertence ao fluxo do universo, não ao nosso domínio.
A sabedoria não está em endurecer o coração, mas em abrandá-lo o suficiente para deixá-lo ir.
Amar, então, torna-se um exercício de desapego: uma reverência silenciosa ao que nasce e morre em nós.
No fim, a perda não é o oposto do amor, mas a sua prova.
É porque tudo se vai que tudo merece ser amado.
E é nesse instante — quando aceitamos o fim sem amargura — que finalmente aprendemos o que é o amor em sua forma mais pura:
um gesto de entrega à impermanência.
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